No ano passado esperei o ano todo para ver o choupo no estacionamento com seu aspecto outonal.
Uma planta majestosa, cheia de vida, com folhas grandes que assumem mil tons de amarelo, que se transformam em dourado com os reflexos do sol poente.
Imaginei as fotos que ia tirar, o enquadramento perfeito, a luz pastosa, o contraste com as sombras nos galhos escuros, os melhores horários para ter luz mas sem muita gente por perto.
O final do verão foi marcado por um setembro muito seco, seguido de um outubro demasiado quente e extremamente chuvoso, um verdadeiro pesadelo para os amantes da folhagem.
As folhas do grande choupo primeiro ficaram manchadas, depois doentes e, finalmente, caíram em massa com o primeiro sopro de vento, formando uma pilha encharcada e doentia.
Sem transformação lenta, sem reflexos quentes e dourados, sem queda romântica de uma folha de cada vez, enquanto respira o primeiro frio, mudando de ares, e sem fotos.
O outono passou, o inverno também, mas ainda não aceitei essa ilusão.
Foi mais ou menos o que aconteceu em 2023, um ano cheio de expectativas, com resultados muito diferentes do que esperávamos.
Olhando o trabalho realizado, as oportunidades perdidas, toda a energia gasta fica difícil aceitar um resultado completamente diferente.
Mas diferente não significa necessariamente pior, às vezes você só precisa mudar sua perspectiva para ver as coisas de forma diferente e voltar ao caminho com nova energia.
Um raio de sol filtrado pelas nuvens, um reflexo nos galhos molhados pela chuva, uma geometria diferente e cheia de beleza, uma poça para pular como crianças, um céu dourado. Um pouco mais de tempo para pensar e pronto.
O inverno passa, e esta primavera chuvosa, que não me dá muita satisfação, acaba por ser cheia de beleza.
Olho as folhas novas desta grande planta, enfrento a decepção do que queria e olho com apreciação a beleza do que tenho diante de mim.
Pronto para partir novamente rumo a novas grandes expectativas.